sexta-feira, 13 de setembro de 2019

Efêmero

Cada dia é uma nova nuvem cobrindo o céu do passado.
Mais e mais densa, cada vez menos o sol consegue passar.
Queria que tudo fosse escuro e já não existisse nada.
Nada pelo que lutar, nada pelo que se importar e nada pelo que fingir.
Cada gota do amargo tira mais a máscara da felicidade.
Cada tragada da névoa ilusória é um sonho sendo desfeito.
O doce sussurro daquele que ceifa se faz mais presente a cada segundo.
Como a Sereia encanta o pescador desavisado, assim ele me seduz.
Na fugaz vida, mais efêmero gostaria que fosse.
Epicuro estava errado, Horácio certo.
Mas na certeza de minha incompreensão, ao menos não sou um porco de sua horda.

terça-feira, 4 de junho de 2019

Pseudo Herói

Sei lá, é quase utópico.
Esse trópico esquecido por Deus.
A justiça dessa destra da Tua mão.
A caridade do novo obliterado
Pelo amargor do passado.

A boca que abençoava... Julgava.
A mão que ajudava... Apedrejava.
Pés que seguiam O Caminho.
Seguem tortuosos e largas trilhas.
Trilhas sem final a vista.

À vista que compramos essa terra.
Pelo reflexo dos que a tinham.
Ajuruetê adestrado, falando o que antes não sabia.
O reflexo do Au, velho mundo miserável.
No sustento da Yersinia quase dizimados.

Novo mundo brilha tanto:
- Vou levando meus escravos.
Oh senhores do norte frio.
Que o mundo desbravaram.
E bradaram aos quatro ventos:
- Este mundo é meu.

Senhores donos de tudo.
Que não tinham nada.
Quiseram ter a liberdade dos livres.
E ela deles a tirara.
Quão pobre você foi, homem rico.
Do tanto que tinha, já não tinha alma.

Buscou o mundo, ganhou a vala.
Vala onde descansam reis e escravos.
Ricos e pobres, soberbos e fracos.
De tão rico se tornaram, hoje habitam a ossada.
Acima daquele que seria a Igreja edificada.

Clamam aos céus a misericórdia de culpas passadas.
Dividem entre si a alma manchada
Não chora, a alma não chora.
De que serve o paraíso quando não se leva nada.
Ah! Bela autarquia. Defendi de unhas e dentes.
Não importa o lado. Não havia presentes.

A manhã costumeira a todos nós.
Já não havia o pão, não havia paz.
O circo também foi embora.
Os animais deixados para trás.
Fazendo de Gladiador todo o povo.
Que em pé aplaudia seu herói (algoz) perspicaz.

*Au - Símbolo químico do Ouro
Yersinia - É o nome de um gênero de Bactérias. Saiba mais aqui.

sexta-feira, 3 de junho de 2016

Flanar

E a gente segue assim.
Um toque um olhar um beijo.
Sem aperto de mão, apenas desejos.

E a gente segue assim.
Sem toque sem olhar sem beijo
E sem confissão.

E a gente segue assim.
Numa noite mal dormida.
Os vermes bagunçam o meu jardim.

E a gente seguiu assim.
Um dia após o outro.

Sem perceber que era o fim.

(Felipe Cavalcanti 03/06/2014)

quinta-feira, 2 de junho de 2016

O ócio da incerteza

Já fui a lugares que não eram reais, já ouvi palavras que não eram sinceras e já ouvi promessas que não continham verdades.
Da esperança agora só o ócio e da vida apenas incertezas.

Os sentimentos verdadeiros são as maiores qualidades que alguém pode ter, porém são sua maior fraqueza e vulnerabilidade, e para os outros são uma arma poderosa pra te derrubar.

(Felipe Cavalcanti - 02/06/2014)

terça-feira, 26 de abril de 2016

Ser(á)

Agora recolho meus versos
Como a Dama da Noite
Que recolhe sua flor
Pra que a luz do Sol
Não a queime
E ela não mostre mais
Seu esplendor.

Para cada beleza há um tempo
Para cada fruto há um período
Seja dia, seja noite.
Seja outono, seja inverno.
Só não deixe de ser.
De crescer, de florescer.
Nem esconda seu brilho.

Se esconder é mais fácil que ser.
Mas seja ao menos para você
Ser para o mundo é não existir.
É ser um com a corrente.
Ir contra a maré é ser o que é.
O voo solo é perigoso.
Mas sem ele como voar?

Viver no quarto escuro.
Vendo o corredor iluminado.
Ver quem passa sem que me vejam.
Ser expectador da vida.
Com o controle na mão.
Muda de canal, mas a imagem é a mesma.
Ter controle não é viver.

Escolher entre as escolhas que nos dão.
Fácil impressão. Ah liberdade!
Vãs! Fúteis, sem alma, sem coração.
Escolhas fáceis levam à morte.
Escolhas difíceis à redenção.
Quisera eu um céu possuir
E nele habitar, para que o mundo cesse.
E eu finalmente possa cantar.

Cantar como as aves do céu e do mar.
Que nada tem e tudo possuem.
Livres para voar.
Livres para descobrir.
Livres para amar.
Livres para viver.
Livres, para morrer!

sexta-feira, 10 de julho de 2015

Paralelo

E nada que me disser será de proveito.
Minha mente. Meu mundo. Meu caminho.
Sua verdade, Seu quarto.Sua trilha.

E nada que me fizer será sentido.
Minhas regras, Meu corpo. Minha alma.
Suas verdades. Seu quarto. Sua trilha.

E nada que me oferecer aceitarei.
Minha consciência. Meu universo. Minha vida.
Suas verdades. Seu quarto. Sua ilha.

sexta-feira, 12 de dezembro de 2014

Dias

Quão bom seria se a vida fosse eterna
Se houvesse vida após a morte.
Se existisse um céu.
Se houvesse um Deus.

Quão bom seria se o nada fosse tudo.
Se a vida representada em um verso fosse mais do que aparenta.
Se a dádiva dos sons não fossem deturpado.
Se o êxito fosse merecido e não necessário.

Quão bom seria se as conquistas fossem passageiras.
Se o homem lutasse dia após dia para sobreviver.
Se a valorização fosse um crime.
Se um beijo fosse uma fraude.

Quão bom seria ser um criminoso nesses tempos
Quão bom seria desvencilhar dos méritos.
Quão bom seria devanear por um só dia.
Entrar em um mundo de ilustre fantasia.

Um mundo meu, um mundo seu.
O céu de todos, o Deus de todos.
A alegria do convívio, a dor da perca.
Quem dera eu mudar as coisas e fazê-las eternas.

(Em memória de Rosana Melete Freitas - Amiga e mãe "adotiva")